-Tem dois reais aí pra me arranjar pra eu lanchar?
Tirei o fone do ouvido pra tentar entender e ele repetiu, mas uma vez bem próximo ao meu ouvido.
-Tem dois reais pra me arranjar aí pra eu lanchar.
Depois pude vê-lo. Era um cara que estudava comigo na Faculdade de Tecnologia. Ele já tava lá quando cheguei à faculdade e agora que já estou quase saindo, tenho certeza que ele ainda vai ficar por lá por mais tempo. Cursamos uma disciplina uma vez juntos. Lembrei.
Na cabeça, em cima da orelha, um cigarro. A barba não longa, mas por fazer. E uma aparência estranha.
Isso me lembrou meu primo. Até o tipo físico dele era parecido. Então me veio à mente a real situação: tratava-se de mais um que vivia em função das substâncias químicas e não de si mesmo.
-Pô man, tenho não -respondi.
-Tá bom. De boa.
Foi-se, e fiquei pensando como alguém pode chegar a essa situação. Meu primo tá sem saída. E quantos mais estão?
Todo drogado começa dizendo que sabe quando parar, mas nem tenta começar a parar. São super-heróis velhos e cansados que não mais salvam vidas. Talvez até destruam.
Sem mais palavras ou esperanças, o que fazer?
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