quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Poltrona da sala de hospital.

-Entre. Sente-se por favor. Aí nesta cadeira elegante mesmo, não se assuste. Não parece normal um hospital público ter uma dessas, né?
-É...
-Então, o doutor... bem... esqueci o nome dele por enquanto mas, enfim, ele me enviou teus exames e andei observando. Realmente um caso estranho. Teus familiares já sabem?
-Bem, nem eu sei direito. Mas já deu pra notar que é grave.
-E muito meu jovem, infelizmente. O que o outro doutor te falou?
-Ele disse que era uma situação complicada demais pra reverter. Uma infecção irreversível. Seria mais fácil isso acabar comigo antes de tentar qualquer tratamento.
-O tratamento completo leva uns três anos de intensos dias em hospitais. Hospitais mais preparados que os desta cidade, você sabe, não?
-Sim.
-Você não percebeu quando começou a se espalhar pelo seu corpo?
-Sim.
-E porque não procurou um médico antes?
-Eu não quis.
-Você quer morrer?___-Por que o silêncio?___-Do jeito que estás você tem uns dois anos mais. São tumores. Câncer. Você já viu alguém morrer de câncer?
-Sim, já vi.
-Quem da família sabe?
-Ninguém.
___
-Vamos tentar tratar ou vai desistir?
-Posso voltar outro dia?
-Claro. Daqui um mês pode ser? Não dá pra passar disso.
-Tudo bem.
-Tome uma decisão até lá.
-Eu nunca soube tomar decisões, doutor.
-Então aproveite cada dia como pudesse ser o último. Crie uma lista de prioridades. Saia sempre com aquela gatinha que você ama, dê e procure receber atenção. Então não conte nada a ninguém. Os dias só podem ser aproveitados assim se ninguém souber.
-É, eu sei...

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A dança das palavras

Sentirei tua falta em meus versos.
Meus poemas de amor inacabados.
Em cada pensamento desmedido.
Nas formas dos astros do céu.

Destino minhas palavras ao acaso
para pessoas de almas já formadas.
Aos tristes fins de Policarpo.
E tristes fins de Meireles.

Somos cúmplices da mesma loucura.
Essa de matar esperanças.
Essa de negar sentimentos.
Somos cúmplices do mesmo medo.

Eu não poderia entender sem sentir de novo.
Nem poderia explicar sem de novo sentir.
Por que nossas palavras não são alegres,
se gostamos tanto de brincar com elas?

Luciano Melgueiros de Souza.

sábado, 18 de setembro de 2010

Outras Palavras

"Não sinto nada mais ou menos, ou eu gosto ou não gosto. Não sei sentir em doses homeopáticas. Preciso e gosto de intensidade, mesmo que ela seja ilusória e se não for assim, prefiro que não seja. Não me apetece viver histórias medíocres, paixões não correspondidas e pessoas água com açúcar. Não sei brincar e ser café com leite. Só quero na minha vida gente que transpire adrenalina de alguma forma, que tenha coragem suficiente pra me dizer o que sente antes, durante e depois ou que invente boas estórias caso não possa vivê-las. Porque eu acho sempre muitas coisas - porque tenho uma mente fértil e delirante - e porque posso achar errado - e ter que me desculpar - e detesto pedir desculpas embora o faça sem  dificuldade se me provarem que eu estraguei tudo achando o que não devia. Quero grandes histórias e estórias; quero o amor e o ódio; quero o mais, o demais ou o nada. Não me importa o que é de verdade ou o que é mentira, mas tem que me convencer, extrair o máximo do meu prazer e me fazer crêr que é para sempre quando eu digo convicto que "nada é para sempre.”  

                                                                                                                         .....Gabriel Garcia Marquez.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Esse amor que me invade.

Que linda a menina dos olhos verde-azulados.
Que lindo cada momento ao seu lado.
Encontro-me em êxtase com tua plenitude.
E ainda que cresças, peço, não mude.

Deixa-me dançar com tuas ondas douradas.
Aportar em tuas idéias ancoradas.
Deixa-me navegar por tua magia.
Deixa que eu seja a noite em busca do dia.

Não sou de inventar sentimentos,
sou de me deixar descobrir.
E quando me vêm pensamentos...
percebo só pensar em ti.

Ontem, hoje cedo,
agora e quase sempre.
Amanhã com certeza.
O importante é que eu me lembre.

O teu sorriso me encanta.
Recordação de uma tarde.
E não há nada o que espanta
esse amor que me invade.

Luciano Melgueiros de Souza

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Carolina >Carol de Abreu

''Hoje é teu dia. Ainda que existam outras pessoas no mundo e todas elas estejam vivendo este dia, hoje o dia é teu!"

Não só por ser teu dia de nascimento. Como já havia dito, parabéns sim. Não só por ser teu dia, mas por tu seres essa pessoa inexplicável com palavras humanas, cheia de virtudes positivas e de manias toleráveis que marcam tua personalidade.
E nesta data, que marca uma enorme transição em nossas vidas, traz novas responsabilidades junto com a tão sonhada liberdade, espero que sintas que existem pessoas que procuram te promover o bem. Em dias conturbados estaremos na tua presença para prestar o auxílio que for necessário. Mesmo que à distância, quando esta for uma necessidade imposta.
E,ó! Sentes? Isso é cheiro de vida...
Isso é gosto de bondade...
Esse calor todo deve ser a sensação esperança...
Então que a visão seja a de prosperidade!
E o que o som emita ondas de felicidade!

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Fracasso, Abraço ao

"Sou extremamente feliz porque abracei minha condição de total fracassado. Passei da fase de negação, superei a raiva e atravessei correndo a resignação em direção ao prometido pote de ouro no fim do arco-íris: a indiferença.
Todo mundo devia saber disso desde o começo. Tem poucos lugares no topo e eles já estão reservados. Nem no cinema os finais são felizes para todo mundo. Quem pensa assim esquece que tem muito mais gente além dos protagonistas. Os coadjuvantes também queriam se dar bem. Sem contar os figurantes e a grande maioria que nem aparece nos créditos.
Às vezes em quase sempre teoricamente nunca diferente, a ignorância pode ser sabedoria. Eu sou feliz porque aprendi a não esperar nada".
"A pior sensação de todas, a ridícula insuficiência, a não-superação. O fracasso."
Abraço ao fracasso!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Xadrez e o tabuleiro

O velho tabuleiro da vida... já desgastado, surrado, um pedaço de tecido sujo, amarelado.
Eu estava segurando e preservando a rainha, agindo apenas com os cavalos. Esqueci das rédeas, queria-os livres, mas foram capturados.
Afinal qual era o meu egoísmo? Mantê-los presos protegidos ou deixá-los livres a perigo?
Minha rainha surgiu dizendo que ela não haveria de ser minha dama, pois que eu era seu amigo. Foi como um tapa. Como se alguém dissesse que eu não posso sonhar, desejar estar junto com ela em castelo de sonhos e de felicidade. Foi como alguém me dizer que eu nunca seria como Jesus, pois ele é perfeito demais. Ora, mas não é essa perfeição que buscamos? Que sentido teria a vida se não fosse a busca pela perfeição.
Largou-me em direção a um castelo de cartas de baralho. Logo mais o vento me avisaria da crueldade de sua natureza nessa situação.
Bispos, caveleiros e até peões me cercavam com as cores da bandeira adversária. Uma silhueta de cor turva, parda, ou sei lá, quase escura, estava lendo em voz alta:
"Eis aqui tua senteça de morte! Cheque-mate!".

Último capítulo do Livros dos Sonhos

Estava eu ali sentado à sombra daquela árvore escrevendo o último capítulo da história que eu não podia mudar. Era um papel amarelado sem linhas, típico dos recicláveis, um lápis preto comum e uma borracha. 
Mas pra que uma borracha?Percebi então que eu ainda não tinha escrito nada! Eu tinha apenas a opção de usar a borracha para mudar aquela história que escreveram pra mim.
Olhei o livro de capa grossa e notei que estava escuro pelas marcas dos dedos que folhearam suas páginas. Mas uma vez pensei numa utilidade para a borracha.
À minha frente, o rio! E pensei como seria se suas águas alguma vez pudessem se mover em direção contrária. Quantas pessoas deixariam de ver, quantas mãos deixaria de molhar?
Joguei então a borracha para o alto o mais longe que pensei poder chegar. E ela não voltou a cair.
Estava diante de mim todo o verde exuberante da outra margem e pensei que se não fosse ele, nenhum lápis surgiria para escrever histórias. Olhei pra minhas mãos e estava segurando o lápis preto ainda. Ela estava suada e meus dedos tentaram recusar-se a abrirem. Mas não era esse o destino de um lápis! Pressionei-o entre minha mão e a árvore mais próxima e pensei em toda minha história. Em instantes, tirei a mão ainda esticada sem temer que aquele instrumento de escrita caisse. Não havia mais um lápis!
Voltei a sentar à sombra e olhei mais uma vez para a capa grossa. Pensei que se todas aquelas páginas tivessem que ser lidas eu teria que viver por uma quantidade incomensurável de datas. Mas ao abrir nas últimas páginas, para minha surpresa havia muitas palavras agora já escritas. E a curiosidade me levou à última página de imediato.
Encontrei na última linha do último parágrafo as últimas palavras que diziam: Pois a alma transcenderá! Fim.
Fechei e decidir não mais abri-lo novamente. Ainda que eu soubesse o fim, preferi não ler o desenrolar da história para não querer voltar a possuir lápis e borrachas. O vento, o verde, a água, o céu e todo o horizonte. Era tudo muito mais belo sem saber como a alma iria transcender. Mas que apenas: trancenderia!
Guardou-se em mim a resignação. Era o último capítulo já escrito e eu haveria de respeitar!
"Breve estarei contigo, vento".