Estava eu ali sentado à sombra daquela árvore escrevendo o último capítulo da história que eu não podia mudar. Era um papel amarelado sem linhas, típico dos recicláveis, um lápis preto comum e uma borracha.
Mas pra que uma borracha?Percebi então que eu ainda não tinha escrito nada! Eu tinha apenas a opção de usar a borracha para mudar aquela história que escreveram pra mim.
Olhei o livro de capa grossa e notei que estava escuro pelas marcas dos dedos que folhearam suas páginas. Mas uma vez pensei numa utilidade para a borracha.
À minha frente, o rio! E pensei como seria se suas águas alguma vez pudessem se mover em direção contrária. Quantas pessoas deixariam de ver, quantas mãos deixaria de molhar?
Joguei então a borracha para o alto o mais longe que pensei poder chegar. E ela não voltou a cair.
Estava diante de mim todo o verde exuberante da outra margem e pensei que se não fosse ele, nenhum lápis surgiria para escrever histórias. Olhei pra minhas mãos e estava segurando o lápis preto ainda. Ela estava suada e meus dedos tentaram recusar-se a abrirem. Mas não era esse o destino de um lápis! Pressionei-o entre minha mão e a árvore mais próxima e pensei em toda minha história. Em instantes, tirei a mão ainda esticada sem temer que aquele instrumento de escrita caisse. Não havia mais um lápis!
Voltei a sentar à sombra e olhei mais uma vez para a capa grossa. Pensei que se todas aquelas páginas tivessem que ser lidas eu teria que viver por uma quantidade incomensurável de datas. Mas ao abrir nas últimas páginas, para minha surpresa havia muitas palavras agora já escritas. E a curiosidade me levou à última página de imediato.
Encontrei na última linha do último parágrafo as últimas palavras que diziam: Pois a alma transcenderá! Fim.
Fechei e decidir não mais abri-lo novamente. Ainda que eu soubesse o fim, preferi não ler o desenrolar da história para não querer voltar a possuir lápis e borrachas. O vento, o verde, a água, o céu e todo o horizonte. Era tudo muito mais belo sem saber como a alma iria transcender. Mas que apenas: trancenderia!
Guardou-se em mim a resignação. Era o último capítulo já escrito e eu haveria de respeitar!
"Breve estarei contigo, vento".
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