-Entre. Sente-se por favor. Aí nesta cadeira elegante mesmo, não se assuste. Não parece normal um hospital público ter uma dessas, né?
-É...
-Então, o doutor... bem... esqueci o nome dele por enquanto mas, enfim, ele me enviou teus exames e andei observando. Realmente um caso estranho. Teus familiares já sabem?
-Bem, nem eu sei direito. Mas já deu pra notar que é grave.
-E muito meu jovem, infelizmente. O que o outro doutor te falou?
-Ele disse que era uma situação complicada demais pra reverter. Uma infecção irreversível. Seria mais fácil isso acabar comigo antes de tentar qualquer tratamento.
-O tratamento completo leva uns três anos de intensos dias em hospitais. Hospitais mais preparados que os desta cidade, você sabe, não?
-Sim.
-Você não percebeu quando começou a se espalhar pelo seu corpo?
-Sim.
-E porque não procurou um médico antes?
-Eu não quis.
-Você quer morrer?___-Por que o silêncio?___-Do jeito que estás você tem uns dois anos mais. São tumores. Câncer. Você já viu alguém morrer de câncer?
-Sim, já vi.
-Quem da família sabe?
-Ninguém.
___
-Vamos tentar tratar ou vai desistir?
-Posso voltar outro dia?
-Claro. Daqui um mês pode ser? Não dá pra passar disso.
-Tudo bem.
-Tome uma decisão até lá.
-Eu nunca soube tomar decisões, doutor.
-Então aproveite cada dia como pudesse ser o último. Crie uma lista de prioridades. Saia sempre com aquela gatinha que você ama, dê e procure receber atenção. Então não conte nada a ninguém. Os dias só podem ser aproveitados assim se ninguém souber.
-É, eu sei...
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