
Dois malucos para ganhar dinheiro, sempre com a mesma desculpa de que é pra interar o almoço, como pude perceber, estavam lá, atrapalhados e desorientados, tentando orientar uma motorista também atrapalhada a sair da vaga. Em volta a tudo isso, uma cidade movimentada e ainda um tanto desorganizada me lembrava a última grande – ou pequena – loucura da qual eu havia participado. Luiza me convidara para a apresentação de uma banda nacional que havia surgido a mais de 20 anos e eu ainda não conhecia. Não custava nada ir conhecer, não é? Bem... o ambiente não me surpreendeu. Era a quadra de uma escola de samba, com uma estrutura péssima e um banheiro ainda pior do que eu poderia explicar tentando exagerar seu estado de podridão. Enquanto eu urinava, ao meu lado um headbanger, como assim chamávamos os adoradores de música metalizada – o metal – também urinava, só que manobrando seu jato para a parede, fazendo assim com que pingos atingissem todos a sua volta. Bem, na verdade só quem tava a sua volta era eu. Filho da puta – eu pensava. Mas o que eu poderia fazer? Afinal, era uma ambiente barra pesada e eu estava só em meio a muitas pessoas fora de si mesmas. O que mais além de álcool? O que mais além de álcool em seus sangues?
- Desculpa cara – me desconcentra de meus pensamentos um dos malucos que reparavam carros – é que eu e meu brother ali...
- Pô cara – respondo eu tentando utilizar dos mesmos modos para que ele não crie confusão comigo – teu brother ali já falou comigo. Eu to liso mesmo cara. Minha vó foi aí nesse banco da frente sacar dinheiro pra pagarmos contas num outro banco.
- Pô, esquenta não, Jesus te proteja. Cê sabe que Jesus te ama né?
Eles sempre usam o nome de Jesus ou de Deus para tentar persuadir ou chantagear emocionalmente, mas eu já me acostumara com isso.
- Sei sim, e a você também, sabes né?
Ele balançou a cabeça afirmando, porém sem entusiasmo. Claro, ele havia proferido as palavras dele em vão. Tudo o que havia nele era a esperança de um próximo gole e eu podia sentir o bafo da cachaça. Mesmo assim apertei suas mãos e agradeci pelas palavras dele.
- Escreve meu nome aí.
Assustei-me. Fiquei sem conseguir entender.
-Aonde?
-Escreve aí.
Peguei uma caneta em minha bolsa e ele esticou o braço pra dentro do carro. A caneta não riscava em seu braço.
- Tudo bem, escreve num papel aí.
Nesse instante reuni todas as informações que meu cérebro poderia dispor pra explicar a importância disso pra ele. Era óbvio que ele queria se sentir especial e lembrado por alguém. Então me esforcei pra achar um papel qualquer e escrever.
- Qual é teu nome?
- Leandro. Leandro Pereira Rodrigues. Anota aí.
- Já anotei. Esquenta não que não irei esquecer.
Minha avó havia chegado e não estava entendendo o que estava acontecendo. Só estava apressada.
- Preciso ir agora cara – eu disse. Bom dia aí pra ti.
- Essa é tua vó?
- É sim.
- Tua vó é uma senhora bonita.
- Valeu. Tenho que ir agora. Até a próxima.
Não importa o que as pessoas pensem em situações adversas é sempre importante ser gentil. Isso vale mais que o dinheiro e alimenta sonhos e esperanças no coração das pessoas. Faz com que elas se sintam especiais.