Resolvo sair da faculdade mais cedo para ir comprar uma calculadora. A prova é amanhã. Preciso de uma calculadora que resolva sistemas com três incógnitas. Tenho que comprar essa calculadora ainda hoje. Vou lá e volto pra aula.
Mas na saída da universidade observei que um grupo de policiais se preparava para algo importante, começavam a se organizar para impedir alguma coisa. Lembrei! Era o protesto dos estudantes que se sentiam prejudicados pela redução e, em alguns casos, até proibição do uso da meia-passagem no sistema de transporte público. Tratava-se de Manaus, uma cidade com sistema de transporte lastimável. Ônibus velhos e sempre lotados, mau cheiro, desobediência às normas de trânsito. Pagava-se caro por um transporte de má qualidade. Eu gastava quatro horas dentro dos ônibus e três horas e meia na faculdade geralmente. Vias parcialmente interditadas por obras inacabadas, motoristas não preparados, alunos revoltados, falta de mobilização das autoridades. Enfim, caos. Passam-se duas horas e pouco percorri. Agora não consigo sair do lugar. Pára-se uma via e toda a cidade para. Hoje estou de carro e de nada adianta.
No dia seguinte resolvo chegar mais tarde na aula porque ficaria em casa estudando para uma prova no último tempo de aula. Mas me deparo novamente com os protestos dos estudantes. Universidade fechada. Ninguém entre, ninguém sai. Essa é a ordem. Soube depois que houve prova ainda assim. Não adiantaria lamentar, me uni aos protestantes.
‘’Polícia é pra ladrão, pra estudante não. Polícia é pra ladrão, pra estudante não. Polícia é pra ladrão, pra estudante não. Polícia é pra ladrão, pra estudante não...’’
- Vamo lá pessoal, vamo invadir a pista e parar o trânsito –gritava um dos líderes.
E outras vozes ecoavam e se misturavam. Eram gritos de guerra, de revolta, de interesses, de ignorância, de inteligência, de vontade, de compreensão e de exigências.
- Lembrem-se que isso é um protesto pacífico. Nós estudantes não vamos bater em ninguém.
-...as nove horas da manhã em frente à câmara de vereadores para um...
‘’Sou estudante. Não sou otário. Não vou bancar a vida mole de empresário. Sou estudante. Não sou otário. Não vou bancar a vida mole de empresário...’’
- Ei, Luciano. Luciano.
Olho pra trás e me deparo com um amigo meu. A partir daquele momento ficamos perto um do outro até o fim dos protestos. Depois do fim, caminhamos juntos por uns cinco quilômetros até a casa de minha tia. Era a casa mais próxima. De lá ele estava a poucas ruas da casa dele e eu apenas estaria esperando uma carona de minha mãe para voltar pra casa.
Um comentário:
é mano... temos que ir atrás dos nossos direitos mesmo! e que isso sirva de lição para a zona leste não votar mais no amazonino ladrão :@
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